Castro de Vila Nova de S. Pedro IV, Sementes pre-históricas de linho
Alfonso Do Paço
M. Lourdes Costa Arthur
[page-n-151]
AfONSO DO PAÇO e M.l\ LOUROES COSTA ARTHUR
(l'orltl ea l)
Ca!>tro de Vila Nova de San Pedro
IV.-Sementes pre-historie.s de Li nho
I:m trabalhos anteriores dissemos Que nos .escavoções arqueológicos do Castro de Vila Novo de S. Pedro se tinha encontrado trigo,
cevado, favo, linho e bolota (I), sem que Se tivesse dado conhecimento de todos os estudos laboratoriais que sobre tais semen tes préhis tóricos realizou o Exmo. Engenheiro-agrónomo A. R. Pinto da
SIlvo, o quem nos apraz, mais uma vez, manifestar o nosso reconhe cimento.
A componho de 1945, no referido castro, foi quosi todo conduzido pelo saudoso Pe . Eugénio Jol hoy (2).
Nos anos anteriores tinha-se escovado o zona habitado à rodo do
chamado reduto central, que então se man tinha quosi intacto.
Na porte SW. deste, em local onde havia terras negros que fi carom dos trabalhos de 1937 e 1938, resolveu-se procurar o con torno
do que se ju lgava o mura lho- exterior do morro, ainda ma l defen ida
nos primeiros anos de escavações.
Encontraram -se en tiio uns restos de paredes, de pequeno a ltura,
(1 )
(2)
A DO PAÇO e M. DE l . COSTA ARTHUR: "C05tro de Vila
"1._15.- Componho de e5(avoçoes ( 1951)", Brotério,
Morça de 1952, Lisboa, 1952.
A. DO PAÇO e M. DE l . COSTA ARTHUR: "Castro de Vila
"11 1.-Perfis de bordos de vosos noo afnomenladas", O
Coimbra, 1952.
Novo de S. Pedro" :
vol. lIV, fasc. 3,
Noyo de S. Pedro":
Instituto, vol. 115,
A. DO PAÇO: "Costro de VilaOQVo de S. Pedro: VI.-Componhos arqueol6gkos de 1943 O 1950", Nqueologia e Hist6rjo. \'01. III , Lisboa, 1953.
-151-
[page-n-152]
2
A. DO PAÇO E M. L. COSTA ARl'HUR
que os trobalhos agrícolas e outros teriam em grande porte des·
truído.
Duas delas formavam uma espécie de galeria, por seguirem
urna ao lodo da outra, e a 25 de Junho diz Jalhay na diório :
"A construção encontrada nos dias anteriores estó a dar
" muitas surprezas. Ao fundo da galeria começou a opa·
"recer de monhii uma espécie de "poço" que entra poro
"dentro do morro.
" A tarde encontrou -se mais para dentro um arco de barro
"amossado e ali sado ... Dentro desse "poço" começou o
"aparecer espólio variado e rico : focas grandes, punções
"de osso, etc."
No dia seguinte acrescenta:
"Ao fundo da galeria encontrada hó dias, no "poço" on " tem identificado, apareceu um punh ada de peq uenas
" sementes incarbanizados. Não sei o que seró . Recolhe" ram -se todos num envelope à parte . Até agoro ainda não
"aparecera m sementes destas".
• • •
Durante o componho de ·1952, depois de termas constatado a
exis tência, na parte inferior do morro central, de uma camada arqueológica do Bronze Mediterrôneo I ou Bronze I, muito rica em
espólio, e de restos de um sistema de muralhas postas a descoberto
nesse ano, e no anterior, bem como um grande forno de cozer louça,
qu izemos reconhecer se a mesma camada arqueológico se mani·
festava por debaixo dos pareditas assinaladas por Jalhay, e de focto
verificamos que assim ero.
O d iório de 1945 fala -nos ainda de "cinzeiros" enCOl,trados aqu i
e a lém, na camada inferior, com maior ou menor profusão de objectos.
Depois dos observações que tivemos possibilidade de faz er no
ano findo, tais "cinzeiros" não são, na maioria dos casos mais do
que o camada arqueológico dos primeiros povos que habitaram o
castro.
Ora como os sementes de linho se encontravam no base dos
paredes acima referidos, portanto no parte superior do camada
arqueológica, deve ter~se dado qualquer fenómeno extraordinório e
vioiento que provocou a derrocado que porece es tar ass inalada aqui
_
152_
[page-n-153]
CASTRO DE VILA NOVA DE SAN PEDRO
3
e além por vórias destroços, en t re os qua is os de cerâmico com sementes de permeio.
Nilo julgamos de admitir um pe ríodo em que o castro estisse
desabi tado, entre o desaparecimento de uns povos e o vindo de
outros. Este hiato, se tivesse exis tido, esta r ia certamente vincado
por uma camada de terras vegetais, coisa que nua se noto.
Poderio também pensar-se que os destruições resultassem de
um incêndio ou de um abolo sism ico, mos o ~1Cçiio violento de gentes
invasoras, com o mesmo civilização, parece coisa mais de admi t ir.
As semen tes recolh idos em 1945 foram entregues poro estudo
00 ilus tre cientísta acima referido, do Estaçiio Agronómi co Nocional,
que sobre elos elaborou o seguinte relato:
"A formo dos sementes incarbon izadas que me foram
"confiados não deixo dúvidas de que se troto de uma
"espécie de linum .
"Uma onó lise ma is demorado permite concluir:
" o) As referidos sementes niio per tencem o nenhuma
"das especies ci tadas de Portugal como espon tâneos.
" Niio são, portan to, de linum hispanicum Mil!. (=
" L. on9u stifolium Huds). Es ta e ou tros espécies es"pon tôneas possuem semen tes de dimensões acen"tuadamente menores.
"b) P"tencem o uma das espédes cul tivados a inda ao
"presen te no nosso Pois, is to é, OU 00 Linum humi " Ie M il!. OU ao L. usitotissimum L Acei tando o cri "tér io de Rothmaler (1944) (e embora es te a utor
"ci te o tes temunho de Ebn- EI -Awan no que res"pei ta o linhos de cápsu la indeiscente, que por ta l
"caroc te rls tica poderia m filiar -se em Linum usitatis"simum como cul tivados já em Espanha no séc XII)
"é muito provável que os semen tes em questilo per" tençom an tes 00 Linum humile MiIl ., espécie em
"que se filiam os li nhos tradiciona is por tugueses
"( linhos mour iscos e linhos galegos) e não a Linum
" usitotissimum que aquele autor supõe ser de recen" te introdução no nosso Pa ís (3) .
(3)
O Sr. Prof. Dr. CARLOS TE IXEIR A com un icou-me !.Imo omos tro de linho encontrodo em Conimbrigo, num voso de borro. em Setembro de 1945. c ujo
l!S tada de incorboni:.oçoo ero semelhonte 00 rle Vilo Novo de S.Pedro.
Focto rKlI6vel é que 1)$ grol)$ deste linno soo !>ostont e moiores (4-4'5
mm.) do que 05 de Vila Novo de S. Pedro (co. 3'5 mm. I (No to de A. R.
PINTO DA SILVA).
-
153 -
[page-n-154]
4
A. DO PAÇO E t.'1. L. COSTA ARTHUR
"C)
Não foram encontrados, como impurezas, nenhumas
"semen t es de outras espécies, mas deve notar-se
"qu e, dada a exigu idade da amostra, não se en" tendeu conveniente sujeita- Ia a um exame comple" to, o ta l respeito, que dest ruiria documento tão
"precioso.
"De Condolle a Rothmaler aceitam ser o Linum humile
';orig inório do Asia Menor. Deve te r sidQ introduzido
"na Peninsula Ibérico por povos da í originórios ou tendo
"aí fortes contactos.
"O achado deste linho no castro eneolítico de Vila Nova
"de S. Pedro vem most rar que o Linum humile jó era
"conhecido no território português antes do idade do
"ferro e antes do primeira invasão dos celtas, contrària"men te à hipótese posto por Rothmaler (p. 273) de ter
"sido introduzido por este povo por volta do ano de 1000
"o . C. Já De Candolle admitia que na Itól ia se ti nha
"pos to de parte o linho vivaz (L. hispanicum Mill.), em
"favor de L. humile, an tes do era cristã. Parece poder
"con f irmar-se a hipótese de De Candolle de ter sido o
" L. humile introduz ido no ocidente europeu durante o
"período 2.500- 1.200 a . C. Daqui teria passado o Itólia
"durante o ocupação romana. Mas note-se que, ainda
"segundo De Condalle, os romanos importavam bons
"linhos (monufaturados) de Espanha, " mas os nomes do
"planto neste país não pe rmitem supor que os fenícios
"tenha m sido os introdutores".
liA presença deste linho em Vila Nova de S. Pedro poderá,
"assim, lançar luz sobre o problema do in t rodução do
"cultu ra dos linhos anuais na Europa ocidental e precisar
"o cronologia de ta l acontecimento. Um est udo compara "do dos linhos arqueológicos seria decer to esclarecedor.
5acavém, 28 de Janeiro de 1953
A. R. Pin to da Silvo
Eng ro . Agron."
• • •
_ 154_
[page-n-155]
CASTRO DE VI LA NOVA DE SAN PEDRO
5
Esta colheita de semen tes de linho em Vi la Nova de S. Pedro
veio, controdizer, conforme jó ficou observado, a seguinte afirmaçiio de Werner Rothmaler:
"Os linhos chegaram 00 ocidente muitos séculos depois
"de serem util izados no Egipto. Em Portugal , parece, o
" linho foi introduzido na idode do ferro com a primeiro
" invasflO dos celtas, aproximadamente no ano 1000 a .
"c. (4).
Rothmoler, que escreveu provàvelmen te em 1943 (5), apesar
de se referir principalmente o linhos portugueses, certamente desconhecia uma publicaçiio cerca de nove anos ma is velha que o seu
traba lho, e se refere o linhos encontrados na região de Almizaroque
pelos irmãos Siret e que a Dr. Fritz Netolitzky estudou o pedido do
Prof. Hugo Obermaier (6), is to sem fa lar da obro monumental "Les
premiers ôges du métol dans le Sudest de l' Espagne" (7). onde também há varios notícias de tecidos e sementes daquela plonto.
Dos linhos de Almizaroque diz·nos o Prof. Dr . Jú lio Martinez
Santo-Ololla no seu trabolho "Cereoles y plantos de lo cultura ibero·
sahoriono en Almizoraque" (Almerío) (8).
"Linum usitotissimum se encontró en lo cosa número IS
"en forma de semillas ext raord inariomen te carbon izados,
"que tan s61 permiten aseguror se trota de lino, varie0
"dad indeterminoble, que probablemente es el usitotissi" mum o a lguna muy próximo de aquella . EI usa probable
"dei lino, de ser único, era como productor de aceite
"vegetal, aunque es posible, por el complejo cultural a
"que pertenece, se cul t ivase tombién como fibro textil,
"según parece deducirse dei anólisis superficial de
"ciertos hollazgos en las tumbas de lo ciudad algariense
(4)
°
W. ROTHMALER : "Sobre o sis temático e
$OÇiolooio dos linhos de Portugal", Agronomio Lusitano, voL VI, tomo III , Lisboo, 1944, pp. 272-213.
Vejo-se aindo
obseNoçoo deste autor $Obte linhos em "Roteiros
dos plontos cul tivados olé Portugal", Revisto Agronómico, vol. XXIX ,
num. 3, Lisboa, 1941, pp. 323 e~.
Em noto deste trobalho diz-se que o texto foi entregue, poro publicoçoo,
em De:
F. NETOUTZKY: "Kulturpflon:
1935, p. 4 .
H. et L. SIRET: "Les premiers ôges dI.' mélol dons le sud-est de l'Espagne"
Anvers, 1887. Vejo -se oinda destes autores: "Los primeras edades dei metal en el Sudeste de Espano", 8orcelana, 1890.
Cuadernos de His lario Primitivo, Ano r, num. I, "1odrid, 19'16, p6g. 42.
°
(5)
(6)
(1)
(8)
-
155-
[page-n-156]
A. DO PAÇO EM. L. COSTA ARTH UR
6
"de la Bastido, de Totano (provindo de Murcio) , que
"excovo el Seminario de Historio Primitivo dei Hombre .
" Este lino procede seguramente dei ongustitolium, que
"crece silvestre en la cuenca mediterrónea (poises
"Ii toroles) y que es distinto dei lino índico y dei centro"europeo, que termina, en fecha tardio, por sustituir. en
uel centro de Europa, el palafiticolo" .
• • •
Enquanto que os semen t es de linho recolhidas por Sire t, n:ia
permitiram o F. Netoli tz ky determinar a variedade, mas tiio sàmente afirmar que se trotava de linho, as que se encon t raram em
Vila Nova de S. Pedro, deram 00 nosso ilustre colaborador poro
sementes pré-histór icos, o possibilidade de ir mais além e admitir
como pertencentes ao Linum humile.
Martínez San ta-Ola 110 supõe ainda que a cu ltura de linha em AI mizaraque se destinasse também à extraçfla de óleo vegetal e $i ret,
ao descrever-nas o espólio arqueológico de Zapata fala -nas de
"gra ines de lin ... et des cardes en sparte carbonisées" (9), e em
El Argar de " tiges de lin avec rac ines et fruits" (10) e ainda da vórios
restas de tecidos de linho " toujours collés aux pendonts d'orei lles.
oux bracelets, aux hoches ou oux poignards. IIs ont dane été canservés, grace a I'imprégnation des seis métol liques qu i ont en quel que sane incrusté le tissu" (1 1).
O Prof. Clark, 00 tratar de linhos pré-his tóricos da Europa, refere os achados de $iret quando estuda os texteis vegetais (12) .
Presumindo alguns au tores que os placas de borro re tangu lares
ou quadrados, providas de or ifícios aos qua t ro contos, se jam simples pesos de tear, e aparecendo elas em Vila Nova de S. Pedro com
as sementes de linho, cer tamen te não seró erro admiti r uma indústria local de fia ção e tecelagem, associado à cultura daquella
planto.
Tal deduçf1 também nos levaria o aceitar o exis tência do
0
mesmo indústria nas estações pré-históricos portuguesas em que
(91
!l01
!II)
(121
H. el L. SIRET: "Les premiers ôgl'$ du mé lol. ..... J)6g . 103.
Ibid.: plonche 24.
Ibid: pp. 1430 154.
J . G. D. CLARK : "Prehisloric Europe. The economl, OOs;s", London. 1952.
P. 233.
- 1 56 -
[page-n-157]
CASTRO OE VI LA NOVA OE SAN PEDRO
7
são vulgares os referidos placas, como: Outeiro do Assento, Outeiro
de S. Mamede, Pragonça, Penedo, Fórnea, Cavaleiro, Oleias, Liceia,
Rotura, Chibones, Pavio, Mértola, Pedro de Ouro, Ota, Vidais (Marvão), etc., e consequentemente nos espanholafi de T res Cabezos,
Lugorica Viejo, Ifre, Zapata, EI Argar, EI ~fício, Fuente Alamo,
Fuente Verme ja, Acebuchal, Mos de Menente e Velez 81anco (13),
onde se recolheram dos mesmos ob jectos, apesar do maioria delas
não nos ler revelado sementes ou tecidos de tinha.
Não nos parece de admitir que o suo cu ltura fosse praticado
só por um aglomerado, ou mesmo por um reduzido número, em
de trimento de ou tros que o recebe ri am ror sim pie exportação.
As sementeiras de linho por habita ntes doquell es costros, talvez,
como os outros culturas, um pouco camuni tórias, deviam ser de
molde o que cada um se bastasse o si próprio.
Lisboa, Janeiro de 1953.
1131
A. 00 PAÇO: "PlocO$ de borro de Vila Nova de S Pedro", Cang,esSO$ do
~33~ Português. I Congresso (porIa 19401, vol. I, LiWao, 19<11, pÓg .
-157-
[page-n-158]
[page-n-159]
AfONSO DO PAÇO e M.l\ LOUROES COSTA ARTHUR
(l'orltl ea l)
Ca!>tro de Vila Nova de San Pedro
IV.-Sementes pre-historie.s de Li nho
I:m trabalhos anteriores dissemos Que nos .escavoções arqueológicos do Castro de Vila Novo de S. Pedro se tinha encontrado trigo,
cevado, favo, linho e bolota (I), sem que Se tivesse dado conhecimento de todos os estudos laboratoriais que sobre tais semen tes préhis tóricos realizou o Exmo. Engenheiro-agrónomo A. R. Pinto da
SIlvo, o quem nos apraz, mais uma vez, manifestar o nosso reconhe cimento.
A componho de 1945, no referido castro, foi quosi todo conduzido pelo saudoso Pe . Eugénio Jol hoy (2).
Nos anos anteriores tinha-se escovado o zona habitado à rodo do
chamado reduto central, que então se man tinha quosi intacto.
Na porte SW. deste, em local onde havia terras negros que fi carom dos trabalhos de 1937 e 1938, resolveu-se procurar o con torno
do que se ju lgava o mura lho- exterior do morro, ainda ma l defen ida
nos primeiros anos de escavações.
Encontraram -se en tiio uns restos de paredes, de pequeno a ltura,
(1 )
(2)
A DO PAÇO e M. DE l . COSTA ARTHUR: "C05tro de Vila
"1._15.- Componho de e5(avoçoes ( 1951)", Brotério,
Morça de 1952, Lisboa, 1952.
A. DO PAÇO e M. DE l . COSTA ARTHUR: "Castro de Vila
"11 1.-Perfis de bordos de vosos noo afnomenladas", O
Coimbra, 1952.
Novo de S. Pedro" :
vol. lIV, fasc. 3,
Noyo de S. Pedro":
Instituto, vol. 115,
A. DO PAÇO: "Costro de VilaOQVo de S. Pedro: VI.-Componhos arqueol6gkos de 1943 O 1950", Nqueologia e Hist6rjo. \'01. III , Lisboa, 1953.
-151-
[page-n-152]
2
A. DO PAÇO E M. L. COSTA ARl'HUR
que os trobalhos agrícolas e outros teriam em grande porte des·
truído.
Duas delas formavam uma espécie de galeria, por seguirem
urna ao lodo da outra, e a 25 de Junho diz Jalhay na diório :
"A construção encontrada nos dias anteriores estó a dar
" muitas surprezas. Ao fundo da galeria começou a opa·
"recer de monhii uma espécie de "poço" que entra poro
"dentro do morro.
" A tarde encontrou -se mais para dentro um arco de barro
"amossado e ali sado ... Dentro desse "poço" começou o
"aparecer espólio variado e rico : focas grandes, punções
"de osso, etc."
No dia seguinte acrescenta:
"Ao fundo da galeria encontrada hó dias, no "poço" on " tem identificado, apareceu um punh ada de peq uenas
" sementes incarbanizados. Não sei o que seró . Recolhe" ram -se todos num envelope à parte . Até agoro ainda não
"aparecera m sementes destas".
• • •
Durante o componho de ·1952, depois de termas constatado a
exis tência, na parte inferior do morro central, de uma camada arqueológica do Bronze Mediterrôneo I ou Bronze I, muito rica em
espólio, e de restos de um sistema de muralhas postas a descoberto
nesse ano, e no anterior, bem como um grande forno de cozer louça,
qu izemos reconhecer se a mesma camada arqueológico se mani·
festava por debaixo dos pareditas assinaladas por Jalhay, e de focto
verificamos que assim ero.
O d iório de 1945 fala -nos ainda de "cinzeiros" enCOl,trados aqu i
e a lém, na camada inferior, com maior ou menor profusão de objectos.
Depois dos observações que tivemos possibilidade de faz er no
ano findo, tais "cinzeiros" não são, na maioria dos casos mais do
que o camada arqueológico dos primeiros povos que habitaram o
castro.
Ora como os sementes de linho se encontravam no base dos
paredes acima referidos, portanto no parte superior do camada
arqueológica, deve ter~se dado qualquer fenómeno extraordinório e
vioiento que provocou a derrocado que porece es tar ass inalada aqui
_
152_
[page-n-153]
CASTRO DE VILA NOVA DE SAN PEDRO
3
e além por vórias destroços, en t re os qua is os de cerâmico com sementes de permeio.
Nilo julgamos de admitir um pe ríodo em que o castro estisse
desabi tado, entre o desaparecimento de uns povos e o vindo de
outros. Este hiato, se tivesse exis tido, esta r ia certamente vincado
por uma camada de terras vegetais, coisa que nua se noto.
Poderio também pensar-se que os destruições resultassem de
um incêndio ou de um abolo sism ico, mos o ~1Cçiio violento de gentes
invasoras, com o mesmo civilização, parece coisa mais de admi t ir.
As semen tes recolh idos em 1945 foram entregues poro estudo
00 ilus tre cientísta acima referido, do Estaçiio Agronómi co Nocional,
que sobre elos elaborou o seguinte relato:
"A formo dos sementes incarbon izadas que me foram
"confiados não deixo dúvidas de que se troto de uma
"espécie de linum .
"Uma onó lise ma is demorado permite concluir:
" o) As referidos sementes niio per tencem o nenhuma
"das especies ci tadas de Portugal como espon tâneos.
" Niio são, portan to, de linum hispanicum Mil!. (=
" L. on9u stifolium Huds). Es ta e ou tros espécies es"pon tôneas possuem semen tes de dimensões acen"tuadamente menores.
"b) P"tencem o uma das espédes cul tivados a inda ao
"presen te no nosso Pois, is to é, OU 00 Linum humi " Ie M il!. OU ao L. usitotissimum L Acei tando o cri "tér io de Rothmaler (1944) (e embora es te a utor
"ci te o tes temunho de Ebn- EI -Awan no que res"pei ta o linhos de cápsu la indeiscente, que por ta l
"caroc te rls tica poderia m filiar -se em Linum usitatis"simum como cul tivados já em Espanha no séc XII)
"é muito provável que os semen tes em questilo per" tençom an tes 00 Linum humile MiIl ., espécie em
"que se filiam os li nhos tradiciona is por tugueses
"( linhos mour iscos e linhos galegos) e não a Linum
" usitotissimum que aquele autor supõe ser de recen" te introdução no nosso Pa ís (3) .
(3)
O Sr. Prof. Dr. CARLOS TE IXEIR A com un icou-me !.Imo omos tro de linho encontrodo em Conimbrigo, num voso de borro. em Setembro de 1945. c ujo
l!S tada de incorboni:.oçoo ero semelhonte 00 rle Vilo Novo de S.Pedro.
Focto rKlI6vel é que 1)$ grol)$ deste linno soo !>ostont e moiores (4-4'5
mm.) do que 05 de Vila Novo de S. Pedro (co. 3'5 mm. I (No to de A. R.
PINTO DA SILVA).
-
153 -
[page-n-154]
4
A. DO PAÇO E t.'1. L. COSTA ARTHUR
"C)
Não foram encontrados, como impurezas, nenhumas
"semen t es de outras espécies, mas deve notar-se
"qu e, dada a exigu idade da amostra, não se en" tendeu conveniente sujeita- Ia a um exame comple" to, o ta l respeito, que dest ruiria documento tão
"precioso.
"De Condolle a Rothmaler aceitam ser o Linum humile
';orig inório do Asia Menor. Deve te r sidQ introduzido
"na Peninsula Ibérico por povos da í originórios ou tendo
"aí fortes contactos.
"O achado deste linho no castro eneolítico de Vila Nova
"de S. Pedro vem most rar que o Linum humile jó era
"conhecido no território português antes do idade do
"ferro e antes do primeira invasão dos celtas, contrària"men te à hipótese posto por Rothmaler (p. 273) de ter
"sido introduzido por este povo por volta do ano de 1000
"o . C. Já De Candolle admitia que na Itól ia se ti nha
"pos to de parte o linho vivaz (L. hispanicum Mill.), em
"favor de L. humile, an tes do era cristã. Parece poder
"con f irmar-se a hipótese de De Candolle de ter sido o
" L. humile introduz ido no ocidente europeu durante o
"período 2.500- 1.200 a . C. Daqui teria passado o Itólia
"durante o ocupação romana. Mas note-se que, ainda
"segundo De Condalle, os romanos importavam bons
"linhos (monufaturados) de Espanha, " mas os nomes do
"planto neste país não pe rmitem supor que os fenícios
"tenha m sido os introdutores".
liA presença deste linho em Vila Nova de S. Pedro poderá,
"assim, lançar luz sobre o problema do in t rodução do
"cultu ra dos linhos anuais na Europa ocidental e precisar
"o cronologia de ta l acontecimento. Um est udo compara "do dos linhos arqueológicos seria decer to esclarecedor.
5acavém, 28 de Janeiro de 1953
A. R. Pin to da Silvo
Eng ro . Agron."
• • •
_ 154_
[page-n-155]
CASTRO DE VI LA NOVA DE SAN PEDRO
5
Esta colheita de semen tes de linho em Vi la Nova de S. Pedro
veio, controdizer, conforme jó ficou observado, a seguinte afirmaçiio de Werner Rothmaler:
"Os linhos chegaram 00 ocidente muitos séculos depois
"de serem util izados no Egipto. Em Portugal , parece, o
" linho foi introduzido na idode do ferro com a primeiro
" invasflO dos celtas, aproximadamente no ano 1000 a .
"c. (4).
Rothmoler, que escreveu provàvelmen te em 1943 (5), apesar
de se referir principalmente o linhos portugueses, certamente desconhecia uma publicaçiio cerca de nove anos ma is velha que o seu
traba lho, e se refere o linhos encontrados na região de Almizaroque
pelos irmãos Siret e que a Dr. Fritz Netolitzky estudou o pedido do
Prof. Hugo Obermaier (6), is to sem fa lar da obro monumental "Les
premiers ôges du métol dans le Sudest de l' Espagne" (7). onde também há varios notícias de tecidos e sementes daquela plonto.
Dos linhos de Almizaroque diz·nos o Prof. Dr . Jú lio Martinez
Santo-Ololla no seu trabolho "Cereoles y plantos de lo cultura ibero·
sahoriono en Almizoraque" (Almerío) (8).
"Linum usitotissimum se encontró en lo cosa número IS
"en forma de semillas ext raord inariomen te carbon izados,
"que tan s61 permiten aseguror se trota de lino, varie0
"dad indeterminoble, que probablemente es el usitotissi" mum o a lguna muy próximo de aquella . EI usa probable
"dei lino, de ser único, era como productor de aceite
"vegetal, aunque es posible, por el complejo cultural a
"que pertenece, se cul t ivase tombién como fibro textil,
"según parece deducirse dei anólisis superficial de
"ciertos hollazgos en las tumbas de lo ciudad algariense
(4)
°
W. ROTHMALER : "Sobre o sis temático e
$OÇiolooio dos linhos de Portugal", Agronomio Lusitano, voL VI, tomo III , Lisboo, 1944, pp. 272-213.
Vejo-se aindo
obseNoçoo deste autor $Obte linhos em "Roteiros
dos plontos cul tivados olé Portugal", Revisto Agronómico, vol. XXIX ,
num. 3, Lisboa, 1941, pp. 323 e~.
Em noto deste trobalho diz-se que o texto foi entregue, poro publicoçoo,
em De:
H. et L. SIRET: "Les premiers ôges dI.' mélol dons le sud-est de l'Espagne"
Anvers, 1887. Vejo -se oinda destes autores: "Los primeras edades dei metal en el Sudeste de Espano", 8orcelana, 1890.
Cuadernos de His lario Primitivo, Ano r, num. I, "1odrid, 19'16, p6g. 42.
°
(5)
(6)
(1)
(8)
-
155-
[page-n-156]
A. DO PAÇO EM. L. COSTA ARTH UR
6
"de la Bastido, de Totano (provindo de Murcio) , que
"excovo el Seminario de Historio Primitivo dei Hombre .
" Este lino procede seguramente dei ongustitolium, que
"crece silvestre en la cuenca mediterrónea (poises
"Ii toroles) y que es distinto dei lino índico y dei centro"europeo, que termina, en fecha tardio, por sustituir. en
uel centro de Europa, el palafiticolo" .
• • •
Enquanto que os semen t es de linho recolhidas por Sire t, n:ia
permitiram o F. Netoli tz ky determinar a variedade, mas tiio sàmente afirmar que se trotava de linho, as que se encon t raram em
Vila Nova de S. Pedro, deram 00 nosso ilustre colaborador poro
sementes pré-histór icos, o possibilidade de ir mais além e admitir
como pertencentes ao Linum humile.
Martínez San ta-Ola 110 supõe ainda que a cu ltura de linha em AI mizaraque se destinasse também à extraçfla de óleo vegetal e $i ret,
ao descrever-nas o espólio arqueológico de Zapata fala -nas de
"gra ines de lin ... et des cardes en sparte carbonisées" (9), e em
El Argar de " tiges de lin avec rac ines et fruits" (10) e ainda da vórios
restas de tecidos de linho " toujours collés aux pendonts d'orei lles.
oux bracelets, aux hoches ou oux poignards. IIs ont dane été canservés, grace a I'imprégnation des seis métol liques qu i ont en quel que sane incrusté le tissu" (1 1).
O Prof. Clark, 00 tratar de linhos pré-his tóricos da Europa, refere os achados de $iret quando estuda os texteis vegetais (12) .
Presumindo alguns au tores que os placas de borro re tangu lares
ou quadrados, providas de or ifícios aos qua t ro contos, se jam simples pesos de tear, e aparecendo elas em Vila Nova de S. Pedro com
as sementes de linho, cer tamen te não seró erro admiti r uma indústria local de fia ção e tecelagem, associado à cultura daquella
planto.
Tal deduçf1 também nos levaria o aceitar o exis tência do
0
mesmo indústria nas estações pré-históricos portuguesas em que
(91
!l01
!II)
(121
H. el L. SIRET: "Les premiers ôgl'$ du mé lol. ..... J)6g . 103.
Ibid.: plonche 24.
Ibid: pp. 1430 154.
J . G. D. CLARK : "Prehisloric Europe. The economl, OOs;s", London. 1952.
P. 233.
- 1 56 -
[page-n-157]
CASTRO OE VI LA NOVA OE SAN PEDRO
7
são vulgares os referidos placas, como: Outeiro do Assento, Outeiro
de S. Mamede, Pragonça, Penedo, Fórnea, Cavaleiro, Oleias, Liceia,
Rotura, Chibones, Pavio, Mértola, Pedro de Ouro, Ota, Vidais (Marvão), etc., e consequentemente nos espanholafi de T res Cabezos,
Lugorica Viejo, Ifre, Zapata, EI Argar, EI ~fício, Fuente Alamo,
Fuente Verme ja, Acebuchal, Mos de Menente e Velez 81anco (13),
onde se recolheram dos mesmos ob jectos, apesar do maioria delas
não nos ler revelado sementes ou tecidos de tinha.
Não nos parece de admitir que o suo cu ltura fosse praticado
só por um aglomerado, ou mesmo por um reduzido número, em
de trimento de ou tros que o recebe ri am ror sim pie exportação.
As sementeiras de linho por habita ntes doquell es costros, talvez,
como os outros culturas, um pouco camuni tórias, deviam ser de
molde o que cada um se bastasse o si próprio.
Lisboa, Janeiro de 1953.
1131
A. 00 PAÇO: "PlocO$ de borro de Vila Nova de S Pedro", Cang,esSO$ do
~33~ Português. I Congresso (porIa 19401, vol. I, LiWao, 19<11, pÓg .
-157-
[page-n-158]
[page-n-159]